Repertório. O Ativo Mais Escasso do Século XXI

27 de ago. de 2025

Existe uma palavra que foi sequestrada, torturada e banalizada pelo marketing digital nos últimos anos, networking.

Ela foi transformada em um clichê, uma receita de bolo vendida por gurus de palco. "Esteja nos lugares certos", "Conecte-se com as pessoas certas". Eles te ensinam a forçar um aperto de mão, a decorar um pitch de elevador, a tratar cada interação humana como uma transação.

Eles te ensinam a conseguir o acesso. Mas eles esquecem de te ensinar a porra da coisa mais importante, o que fazer quando você está dentro da sala.

Essa semana, fui pego de surpresa com um convite para um jantar no Jardins, um dos bairros mais nobres de São Paulo. Não deu tempo de passar em casa, de colocar a "armadura" social adequada. Eu estava no básico, no arroz com feijão. Ao chegar, o cenário era exatamente o que você imagina, advogados influentes, empresários que movem mercados, gente grande.

Várias rodas de conversa acontecendo simultaneamente. Me introduzi em uma. O assunto que estava rolando era sobre impacto do cenário político nos negócios, as perspectivas econômicas e a crise da educação básica. Um assunto denso, profundo e que você pisa em ovos para falar, pois vocês sabem né, opinião é igual… cada um tem o seu.

Nesses momentos, a janela de oportunidade é brutalmente curta. Você tem duas, talvez três frases para que aquelas pessoas decidam se você é digno do tempo delas. Elas precisam decidir se você vai agregar à conversa ou se vai apenas sugar o oxigênio da sala.

É nesse instante que a maioria das pessoas que tanto lutaram pelo "acesso" falha miseravelmente.

O Analfabeto Funcional de Luxo

O que testemunhamos hoje é a ascensão do que Olavo de Carvalho chamaria de "analfabeto funcional de luxo". O especialista. O cara que domina com uma profundidade assustadora um único e minúsculo quadrado do tabuleiro de xadrez da vida, mas é completamente ignorante sobre o resto do jogo.

Ele sabe tudo sobre tráfego pago, mas não sabe nada sobre a história do capitalismo. Ele entende de funis de venda, mas nunca leu um clássico da literatura para entender a alma humana que ele tanto tenta persuadir. Ele vive na sua bolha técnica, otimizando métricas, mas incapaz de articular um pensamento coerente sobre a estrutura política que permite que seu negócio exista.

E quando colocado em uma sala com pessoas que jogam o jogo de verdade, ele se torna o zero à esquerda. O interesseiro com o olhar vazio, incapaz de conectar os pontos, de enxergar o todo.

A verdade é que a maioria dos picaretas do digital, que vendem fórmulas mágicas de networking, não possuem repertório para sobreviver cinco minutos em uma conversa como aquela. Eles são mestres em criar a fachada, mas por trás não há nada. A casa é oca.

Naquela noite, eu não estava o mais bem vestido. Minha roupa não gritava "sucesso". Mas quando comecei a falar, o ambiente mudou. Fui tratado de igual para igual. Vi a surpresa nos olhos deles ao ouvirem um moleque de 20 e poucos anos articular pensamentos sobre política, economia e filosofia.

E é sobre isso. É sobre repertório.

Construindo o Arsenal Invisível

Olavo dizia que cultura não é um acúmulo de informações, mas a organização da sua inteligência e a formação da sua personalidade. É a capacidade de tomar posse da sua própria mente.

Repertório, portanto, não é sobre saber fatos. É sobre ter um universo interior.

É o resultado de anos de uma curiosidade voraz e indisciplinada. É o acúmulo de horas lendo livros de história, filosofia, poesia, coisas que não têm um ROI imediato. É assistir a documentários sobre a ascensão e queda de impérios. É ouvir música clássica. É ter conversas difíceis com pessoas que destroem seus argumentos.

É o seu arsenal invisível. Enquanto todo mundo está polindo a armadura (a roupa, o carro, o cargo), você está forjando a espada (sua mente, suas ideias, sua capacidade de articular pensamentos complexos).

Dados mostram que o brasileiro médio lê menos de 5 livros por ano e termina menos da metade deles. Em um cenário de deserto intelectual, ter lido 20 bons livros no último ano não te torna um gênio. Te torna um rei em terra de cego e surdos.

A pessoa com repertório não precisa "fazer networking". Ela se torna um centro de gravidade. As pessoas se interessam por ela naturalmente, porque ela irradia uma perspectiva única. Ela não fala apenas sobre o que faz; fala sobre como o que ela faz se encaixa na grande tapeçaria da história humana. E essa é uma moeda de valor incalculável.

A Pergunta que Define seu Valor

O acesso é uma commodity. Hoje, com um pouco de dinheiro e cara de pau, você consegue entrar em quase qualquer sala. Mas a permanência, o respeito, a influência... isso não se compra. Isso se constrói, silenciosamente, no seu dia a dia.

Então, pare por um segundo e olhe para a sua rotina. Além do seu trabalho, do seu nicho, da sua bolha, o que você está consumindo? O que está alimentando a sua mente? Seu feed é uma câmara de eco de ideias que vem e vão rapidamente ou uma janela para o mundo?

Você está se preparando para a conversa que pode mudar sua vida, ou está apenas ensaiando o mesmo pitch de vendas de sempre?

O mundo está cheio de pessoas interessadas. Mas ele é desesperadamente carente de pessoas interessantes. O acesso te coloca na porta. O repertório é o que te convida para sentar à mesa.

Construa o seu. A solidão do estudo de hoje é o poder da sua voz de amanhã.

Este site não faz parte do site do Facebook ou do Facebook Inc. Além disso, este site NÃO é endossado pelo Facebook de forma alguma. FACEBOOK é uma marca registrada da FACEBOOK, Inc.

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